Professor Thiago Bernardino de Carvalho (UNESP)
As perspectivas para o mercado de pecuária de corte são positivas para os anos de 2020/2021, mesmo a economia e o mercado em geral passando pela turbulência da pandemia do coronavírus.
Deve-se lembrar que o equilíbrio do mercado de qualquer produto é formado pelos vetores de oferta e demanda, sejam internos e/ou externos.
No caso da pecuária de corte, o mercado já sinalizava no final de 2019, uma restrição em termos de oferta de animais prontos para o abate para os dois próximos anos. E os dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística do Brasil, o IBGE, mostram que o abate no início de 2020 é o menor desde 2011. Foram abatidas de janeiro a março de 2020, 7,2 milhões de cabeças bovinas (macho e fêmea).
A oferta restrita de animais no campo faz com que os preços dos animais de reposição, bezerro e boi magro, atinjam patamares de preços históricos. Bom para criadores, mas desafiador para quem faz a recria e engorda. A necessidade de fazer contas e um bom planejamento se torna fundamental para a terminação.
E esse movimento de alta da reposição, somado aos preços elevados do milho, fazem com que pecuaristas-confinadores se desanimem para fechar gado no primeiro giro e posterguem o confinamento para o segundo giro, no segundo semestre. Esse cenário pode fazer com que falte animais para abate entre os meses de julho e setembro, valorizando as cotações do animal, já que o mercado entre agora na entressafra de boi gordo, com menos pasto para alimentação e a necessidade de fazer um uso de alimentação à base de grãos.
Pelo lado da demanda, o ano de 2020, que sinalizava um bom momento para o mercado doméstico, tem no mercado externo o motor de estabilidade e aquecimento do mercado.
A desvalorização do Real frente ao dólar, deixou os produtos brasileiros exportáveis mais atrativos no cenário internacional. Entre esses produtos, as carnes no geral ganharam mais espaço entre os países, registrando os melhores números na história. A carne bovina registra nos cinco primeiros meses do ano, quantidades recordes de embarques.
Além do dólar, que deixa a carne bovina brasileira mais atrativa, problemas nas indústrias norte-americana e australiana, surtos de peste suína africana e aftosa na China, assim como casos de influenza aviária na Índia, fazem com que os países, principalmente a China, busquem elevar as compras de carne bovina do Brasil.
Esse cenário não deve se modificar no curto prazo, devido à falta de carne ao redor do mundo. O Brasil neste ponto se consolidou como o grande fornecedor de carne bovina para o mundo. O Brasil está para a carne bovina, assim como o Oriente Médio está para o petróleo.
Oferta restrita e cenário externo favorável trazem otimismo para o setor, mesmo com os custos em alta. O que pode vir a frear o movimento de alta, pode ser o mercado interno, devido ao cenário de crise devido à pandemia.
Deve-se lembrar que 75% da produção da carne bovina fica no Brasil, sendo o driver formador do preço do boi. Soma-se a isso, o fato de que a carne bovina é a que possui o maior valor agregado, se comparada às carnes de frango e suína.
A expectativa de uma melhora da economia no segundo semestre traz um alento para a perspectiva do setor. A volta aos poucos da economia e da circulação das pessoas devem ajudar na sustentação de preços.
O ano de 2020 se torna desafiador pelas incertezas econômicas, tanto nacionais como internacionais, mas, por outro lado, com uma oferta restrita no campo e o papel de protagonista do Brasil, o ano corrente deverá ser importante e positivo para a pecuária com reflexos no ano de 2021.
O pecuarista deve aproveitar esse cenário, assim como taxas de juros mais baixas, e fazer investimento na produção, melhorando genética, alimentação, pastagem, sanidade e estrutura da fazenda. A pecuária é uma atividade de longo prazo e com a disponibilidade de crédito barato, pode se tornar mais rentável no futuro.
O momento é de incerteza, mas o pecuarista deve manter os investimentos, sem loucuras, é claro, mas sabendo que irá passar por um momento de transição. Aumentar a produtividade, produzindo mais arrobas por hectare fará com que a rentabilidade aumente e reduza custos fixos.
A gestão do rebanho, da comercialização, dos funcionários e a gestão de custos são fundamentais nesse momento para quem quer continuar na atividade.