Em cultivos de culturas graníferas na região Sudoeste de Goiás, o sistema agrícola predominante é o de sucessão, sendo a soja (1ª safra) e o milho ou o sorgo (2ª safra) semeados em plantio direto. Ainda, em boa parte da região, as áreas cultivadas para produção de grãos, o método de controle de plantas daninhas mais empregado é o químico, por meio de herbicidas, aplicados tanto na dessecação das plantas daninhas e em pré-semeadura de culturas graníferas, quanto na pós-emergência da cultura e/ou da comunidade infestante.
Vale a pena salientar que o sistema agrícola por si só tem o potencial de selecionar plantas daninhas tolerantes ou resistentes a herbicidas. Mas aí fica a pergunta: “O que leva a seleção de espécies tolerantes ou resistentes a herbicidas?” A resposta é simples e clara: aplicações frequentes de um mesmo herbicida ou de herbicidas diferentes que, no entanto, possuem o mesmo mecanismo de ação. Portanto, para manejar ou controlar plantas daninhas tolerantes ou resistentes a herbicidas é necessário o conhecimento desde os conceitos técnicos inerentes à tolerância e à resistência de plantas daninhas até o sistema de produção agrícola em cada área.
Quando se fala de tolerância e de resistência de plantas daninhas de herbicidas podem surgir confundimentos conceituais entre “Resistência a herbicidas”, “Tolerância a herbicidas” e “Plantas daninhas de difícil controle por herbicidas”. Portanto define-se:
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Resistência de plantas daninhas a herbicidas é a capacidade constituída e herdável de algum grupo de indivíduos com carga genética semelhante (biótipos), dentro de uma determinada população, de sobreviver e se reproduzir após a exposição à dose de um herbicida, que normalmente seria letal a uma população normal (suscetível) da mesma espécie (SBCPD 2000; Christofolleti et al., 2008).
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Tolerância de plantas daninhas aos herbicidas é uma característica inata da espécie em sobreviver a aplicações de determinado (s) herbicida (s) na dose recomendada, que seria letal a outras espécies, sem alterações marcantes em seu crescimento e desenvolvimento, ou seja, neste caso, toda a população em qualquer lugar que esteja (Christofolleti et al., 2008).
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Plantas daninhas de difícil controle por herbicidas são aquelas possuem características/estruturas morfológicas, anatômicas e fisiológicas que confere a elas em determinadas fase do ciclo, capacidade de se recuperar (exemplo: rebrotar) de injúrias causadas por vários herbicidas existentes, como é o caso da vassourinha-de-botão (Spermacoce verticillata) que à medida que avançam às fases de desenvolvimento absorvem menos herbicida e, por consequência, a translocação do herbicida também é comprometida (Fadin 2017; Fadin e Monquero 2019).
Em áreas agrícolas do Sudoeste de Goiano, nas últimas safras de soja, tem-se constatado o aumento expressivo de áreas infestadas com a vassourinha-de-botão (Spermacoce verticillata). No entanto, vale salientar que, já no ano de 2018, Pesquisadores do Centro Tecnológico COMIGO-CTC e do Instituto Goiano de Agricultura – IGA, constataram na região em margens de rodovias e estradas vicinais a infestação pela vassourinha-de-botão. Posteriormente, o Centro Tecnológico COMIGO (CTC) em conjunto com o departamento de assistência técnica da cooperativa COMIGO (DAT-COMIGO) passou a monitorar e constatou a presença da vassourinha-de-botão em praticamente todas as áreas de atuação da COMIGO na região Sudoeste de Goiás.
Nas últimas safras de soja 2020/2021 e 2021/2022, alguns produtores tiveram problema com alta infestação da vassourinha-de-botão em suas áreas de soja.
Uma das hipóteses é de vassourinha-de-botão (Spermacoce verticillata) tem ocorrido em maior abundância devido principalmente à dificuldade na identificação da espécie, pois, em muitas das vezes quando a vassourinha-de-botão recém-emergida ou está em pleno desenvolvimento vegetativo ela é confundida com a erva-quente (Spermacoce latifolia). Assim, as doses de herbicidas aplicadas podem ser insuficientes, devido a vassourinha-de-botão ser uma planta perene e com base do caule lenhosa, enquanto que a erva-quente (S. latifolia) é uma planta daninha de ciclo anual (Lorenzi 2008). Outra questão que dificulta o controle da vassourinha-de-botão e contribui com o aumento da sua população em uma determinada área, é a fase de crescimento e desenvolvimento em que se encontram as plantas no momento da aplicação dos herbicidas (“timing de aplicação”), pois em fases de desenvolvimento avançado (acima de 4 folhas) a vassourinha-de-botão adquire maior tolerância a determinadas doses de herbicidas (Fadin 2017; Fadin e Monquero 2019).
Nos estágios mais avançados, nas duas espécies (S. verticillata e S. latifolia), embora sejam da mesma família (Rubiaceae) e gênero (Spermacoce), pode se observar que há diferenças morfológicas entre elas, o que pode ajudar na identificação.
Quando a vassourinha-de-botão não é dessecada de forma eficaz na pré-semeadura da soja poderá causar perdas diretas pela matocompetição que podem ultrapassar os 36 % (Lourenço 2018). Ainda, áreas que no momento da colheita possui infestação ou reinfestação (rebrota) por vassourinha-de-botão, mesmo que seja dessecada em pré-colheita da soja, poderá ocorrer também perdas indiretas ao colher e, também na classificação no recebimento dos armazéns devido às impurezas nos grãos colhidos.
Caso já esteja com esta problemática na sua área de cultivo e queira evitar as perdas fique atento às pesquisas realizadas pelo Centro Tecnológico COMIGO, que serão publicadas no Anuário de Pesquisas Agricultura na edição de 2022 e apresentadas no Workshop CTC 2022: 1ª Safra que ocorrerá em julho de 2022.
Por Dieimisson Paulo Almeida*
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia/Produção Vegetal
Pesquisador em Manejo e Controle de Plantas Daninhas do Centro Tecnológico COMIGO – CTC
*Com colaboração de Filogônio de Freitas de Souza, Eng. Agrônomo do Departamento de Assistência Técnica da COMIGO; Eduardo Moreira Barros, Tecnólogo em Produção de Grãos, Dr. em Entomologia. Consultor na De Lollo Agronegócios; e Paulo César Timossi, Eng. Agrônomo. Doutor em Agronomia. Professor Associado e Pesquisador em Ciência das Plantas-Daninhas e Tecnologia de Aplicação de Produtos Fitossanitários na Universidade Federal de Jataí.