Pesquisador Fancelli* alerta para o perigo de o produtor, de olho na safrinha, colocar a principal safra em perigo ou perder, com isso, sua melhor potencialidade
*Antônio Luiz Fancelli – É engenheiro agrônomo, pesquisador e professor da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), possui especialização em Sistemas de Produção, mestrado em Fitotecnia e doutorado em Solos e Nutrição de Plantas. Foi fundador e membro do CESB (Comitê Estratégico Soja Brasil).
Quais os principais fatores para que o produtor obtenha altas produtividades?
Antônio Luiz Fancelli – O primeiro fator importante para altas produtividades é a utilização da semeadura na época adequada. O agricultor precisa controlar um pouco mais a ansiedade e iniciar o plantio quando as chuvas estiverem normalizadas. Normalmente o agricultor antecipa demais a semeadura em função da safrinha, prejudicando, muitas vezes, a cultura da soja. Principalmente colocando os estágios iniciais em situações bem desfavoráveis e de risco. Outro ponto importante é a escolha adequada da semente. A qualidade da semente é fundamental. Praticamente 45% a 50% do sucesso da lavoura está relacionado à semente. Um outro ponto importante seria a garantia de um estande adequado. Ter a população adequada em função do cultivar utilizado e, principalmente, garantir a distribuição de plantas de maneira satisfatória.
Como o agricultor deve proceder para garantir essa distribuição das plantas de forma adequada?
Fancelli – Isso está relacionado com uma regulagem efetiva e adequada da semeadura e também utilizando uma velocidade correta para a implantação da cultura. Essa velocidade, normalmente, gira em torno de 6 quilômetros por hora e não mais do que isto. Um outro ponto fundamental seria garantir a sanidade da lavoura, principalmente, através de uma adubação adequada. A nutrição ameniza e pode reduzir muito a ocorrência de pragas e doenças em função do equilíbrio nutricional. Uma questão importante é utilizar fertilizantes adequados e deixar de lado fertilizantes tradicionais como o 0-20-20 (NPK) ou o 2-20-18 que já estão muito obsoletos. Hoje o agricultor precisa trabalhar com fórmulas mais modernas principalmente com um pouco mais de nitrogênio na sua composição. Então, fórmulas que iniciassem por 6, 7 ou 8 para garantir pelo menos uns 15 quilos de nitrogênio à semeadura, que favoreceria muito o estabelecimento da cultura e o desenvolvimento inicial significativo do sistema radicular. Basicamente esses são os condicionantes mais importantes da produtividade.
O produtor não gosta de correr riscos de comprometer a safrinha. Seria o caso de repensar a segunda safra?
Fancelli – Nós não podemos, em função da safrinha, sacrificarmos a lavoura da soja. Muitas vezes o agricultor, na ânsia de plantar a safrinha, planta muito mais cedo do que deveria. Às vezes o agricultor esquece que plantando uma semana mais cedo, por exemplo, ele não tem essa diferença depois na colheita. Existe na agricultura e na biologia um fator conhecido como soma térmica. Então nós plantamos uma semana mais cedo, mas as noites ainda estariam relativamente frias e a planta tem que ter uma determinada quantidade de calor para atingir o seu momento adequado para o florescimento e para o fechamento do ciclo. Muitas vezes plantando-se uma semana a dez dias antes, numa condição desfavorável com pouca água e também com temperaturas menos amenas, muitas vezes colhe-se junto com aquele que plantou uma semana mais cedo. Então o agricultor precisa mudar um pouquinho o seu conceito de que a planta não é uma máquina em que ele planta em um determinado dia e 120 dias depois ele estará colhendo. Isso vai depender muito da condição climática. Muitas vezes, cinco dias, uma semana ou dez dias a mais que ele tenta ganhar tempo em relação ao milho, na verdade não vai acontecer isso devido, exatamente, à soma térmica.
O que é importante, neste sentido, que o produtor considere para iniciar o plantio?
Fancelli – Ele precisa considerar sempre o mínimo de água armazenada no solo para que a soja não tenha nenhum tipo de problemas no seu estabelecimento. Eu tenho uma regrinha que seria para só iniciar o plantio da soja quando ocorresse chuva entre 50 e 80 milímetros, dentro de sete a dez dias no local que o produtor vai estabelecer a semeadura. Isso garante, realmente, um estabelecimento efetivo da soja e cinco dias a mais ou a menos não vai colocar a safrinha em risco em hipótese alguma.
A adoção de estratégias como a Integração Lavoura Pecuária pode ser uma boa alternativa para se buscar altas produtividades também?
Fancelli – Com toda certeza. Essa tecnologia de Integração Lavoura e Pecuária é extremamente importante para o sistema de produção como um todo, aumentando a estabilidade produtiva e, ao mesmo tempo, obtendo a palhada adequada. Também o sistema radicular adequado proveniente das plantas forrageiras pode favorecer uma maior conservação de água no solo e então, neste caso, permitir que a gente pudesse plantar um pouquinho mais cedo. (Fonte: Por Samir Machado – Ascom COMIGO)